Para pensar a Coligação
Varnhagen
Certa feita, o Getúlio, falando sobre seu governo e sua equipe, soltou essa pérola: “Lá, há uns que não são capazes de nada e outros, que são capazes de tudo”. Como bom político, entendedor da alma meio que esquizofrênica da massa, apontava um problema e, ao mesmo tempo, se colocava fora da órbita do problema. Engenhoso, seguiu a máxima gaúcha e, também, mineira: “se um cavalo passar por ti, selado e sem cavaleiro, suba nele de pronto”. Deu no que deu: um governo provisório de 4 anos (e um cacete na patuléia paulista), um governo constitucional de 3 anos, 8 anos de ditadura pura e simples, eivada de um fascismo meia boca. Está certo que sucumbiu ao desmonte dos estados totalitários de direita, no pós-45. Mas, nessa altura do campeonato já era o “Pai dos Pobres”, mito construído às custas de muita propaganda. Em 1950, o cavalo passou e o guasca subiu no cavalo de novo. Em 54, sob o ataque da mídia e de amplos setores conservadores, deu o golpe final: matou-se, virou herói e, com isso, jogou por terra os sonhos de seus inimigos imediatos, Lacerda o maior deles.
O amigo leitor, escasso como virgem em chineiro, há de se perguntar: sim, mas e daí? O que o dito tem a ver com as calças? Onde quer o infeliz (no caso essa anta que vos ocupa agora) chegar? Diria ao leitor, sempre leal e sempre a objetar, que nada ou quase nada. Como, aliás, quase tudo na vida. O amigo haverá de me entender: para mim, chegamos, quando muito, na Revolução de 30, mutatis mutandis, nesse jogo. Avançamos, do ponto de vista político, ao romper com uma continuidade meio que perversa, que acabava por transformar o jogo num feudozinho onde alguns cara-pálidas definiam os destinos de nós, ralé ignara e besta. Criou-se, dentro desse e-país, um forte movimento político que possibilitou a alternância e, mais que isso, permitiu vislumbrar a construção de um novo projeto de eBrasil.
E, é forçoso reconhecer, não houve uma mudança significativa no “fazer político”, não houve a formação de um corpo técnico-político e diplomático que pudesse, de fato, instituir um novo modelo de gestão e uma nova relação com o mundo, a partir de novos atores. Nesse sentido, é possível dizer que avançamos, mas avançamos até certo ponto. A última eleição presidencial é um exemplo acabado disso.
Qual o caminho então, perguntará outro leitor também menos paciente. Diria que só há um caminho possível: a criação de um projeto diferenciado, escorado numa forte coesão programática e, via de regra, incremento da participação popular nas decisões, através da informação e do fomento à discussão. Não se trata aqui de expurgar fóruns e canais de comunicação, como o IRC, extremamente importantes. Mas, é preciso insistir, a mídia in game deve ser repensada e servir, ela também, como lócus privilegiado do debate político. Se o fórum, que tem sua importância, friso de novo, é composto por uma pequena parcela -e não será diferente, tenham certeza- é imperioso que se traga para dentro do jogo, para sua mídia interna, os debates que agitam o mundo político do eBrasil. Quero crer, inclusive, que isso acabaria por situar melhor os players e, efeito direto, atraí-los para outros fóruns e espaços de discussão. Uma coisa, fatalmente, levaria a outra e por aí vai.
E porque isso não acontece ou, quando acontece, de forma intempestiva ou esvaziada? Porque paramos no meio do processo. E, quero crer também, não interessa a determinados segmentos do jogo. No meu entendimento, resta à Coligação continuar a luta a que se propôs: através da democratização da informação e das decisões, construir o eBrasil que queremos, que precisamos e que está pronto para nascer. E o resto, café pequeno, como se diz em Minas.
Um abraço, ex cordis,
Varnhagen, aka Mahdi
Comments
votado!!!
V
.:.
votei com certeza... assino em baixo... MPCHATS JA!
Eu me inclino a pensar dessa forma tambem mas acho que se abrissem demais as informaçoes, os governos acabariam simplesmente deixando de posta-las.
Sim, Plinio. Certas coisas não podem ser discutidas de janelas abertas, mais ainda quando estão ligadas à segurança nacional ou coisa que o valha. Mas essas estão fora do que estou falando. Agora, se não trazermos os caras pra discussão, não vai ser nem ingame nem extragame...
Um abração, meu velho!
Mahdi você é um dos motivos de ainda eu continuar no jogo!
Seus artigos sempre perfeitos, um dia quero poder escrever como você e ate melhor 😃
É por isso que módulo político perdeu um pouco de sua graça. Outrora palcos de discussões acaloradas sobre aumento ou redução de impostos, impressão de dinheiro (quem lembra do CJC?), os partidos de hoje em dia apenas trocam farpas (hating) e, quando assumem o Governo, são muito similares.
Não há mais mudança no "fazer político", como disseste, e não tenho muitas esperanças de que volte a ter. Novos atores não é o problema, visto que o eRepublik se renova periodicamente [...]
o problema mesmo é a forma de pensar dos mais velhos, que acaba por contagiar (pra não dizer contaminar) os mais novos que entram.
Enfim, esse modelo de gestão em teoria é muito interessante mas, ePessimista que sou, creio que está muito, muito longe, de ser concretizado.
Ixi Julius, você tem muito muito muito a aprender para conseguir escrever como o Mahdi! Hehehe
No mais, parabéns por mais um ótimo artigo, Mahdi!
É sempre bom ver você na ativa 🙂
O problema é que podem passar milhares de babyboom's e a história seguirá a mesma, já que se algum baby tenta se sobresair ele é cotado como revolucionário maluco e que ñ entende nada da mecanica do jogo e vai para escanteio!
Os mesmos que discriminam os babys são os que controlam o país, assim que a política de manter a informacao no mesmo circulo se manterá para sempre, já que os macacos velhos sempre serao os macacos velhos!
ah, o prazer de ler o Mahdi... votado a apoiado, como sempre.
Bom artigo, meio utópico.
Mas bom artigo.
PAULISTA É PAULISTA, O RESTO É TUDO NOOB
abs
v
Mais um texto inteligente e muito bem articulado.
Mas, dado o paralelo histórico me vejo forçado a fazer duas perguntas:
1 - O que teria propiciado a "política do café com leite" aqui no eRepublik, que exigiu o surgimento da Coligação/Revolução de 30?
2 - Afinal, se a dita revolução gerou um governo "fascistóide/peronistóide" no Brasil que foi sucedido por uma "democracia" do General Dutra, imposta em parte de fora para dentro, o que podemos esperar de nossa revolução de 30?
Um grande abraço (tão grande que não coube no post acima)
@Ryan: Na verdade seguindo seu raciocínio e tomando suas afirmações como corretas, SÓ RESTA ESPAÇO PARA MUDANÇAS NO FAZER POLÍTICO, e não na política propriamente dita.
Sou mais otimista e acredito no espaço para posições políticas diferentes, como já expressei outras vezes, mas acredito que é exatamente no fazer político que essas mudanças podem se iniciar.
@Greywacke
E que mudanças serão feitas? Quando eu falei
"Não há mais mudança no "fazer político", como disseste, e não tenho muitas esperanças de que volte a ter."
eu me referia a época em que o partido governante fazia toda a diferença. Certos partidos defendiam a impressão de dinheiro, outros defendiam mais/menos impostos, etc. Hoje é tudo igual, nem parece que os partidos estão mudando.
A coligação, que tanto levantou a bandeira da renovação, está atuando exatamente como aqueles que tanto criticaram. Quando eles chegaram ao poder, viram como as coisas realmente eram.
Enfim, mudanças no fazer político só acontecerão com base em mudanças ingame, penso eu. Se o Plato, por exemplo, re-introduzir as Prefeituras, ou tornar necessária a impressão de dinheiro como outrora, talvez as coisas voltem a esquentar e mudem.
Até lá, continuaremos na mesma.
Ryan:
1 - Acho que entendi o "Fazer político" como "Fazer política", ou seja, a maneira de promover a interação entre a população/congresso/governo através de outros meios que não os restritos do fórum e do irc.
2 - Com relação à prática da coligação, concordo com vc, foi por isso mesmo que eu fiz as perguntas ao Mahi😛 Getulio Vargas não rompeu em essência a maneira como se fazia (e faz) a política no Brasil, pelo compadrio, em que se vê o agente político como quem te faz favores.
As mudanças no FAZER a POLÍTICA seriam as apontadas no artigo: abrir o poder de decisão a um numero maior de pessoas. Por exemplo, concordo com o Braga quando ele afirma que a decisão de trucar Portugal pela Espanha já estava no ar a muito tempo (e eu acho vantajosa), mas não se pode negar que a política de negociação dos aliados não chega ao cidadão comum.
Muito do que VAI ser feito deve ser secreto, mas a discussão do que PODERIA ser feito deve ser mais acessível.
Fecho com o Ryan, quanto à necessidade de se repensar o módulo político. Aliás, assim como no Brasil, esse nosso amado país grande e besta, o eBrasil também necessita com urgencia de uma reforma política. Não só nós, todos os países. Dá, isso é fato, para promover mudanças nesse cenário, mas passa pela intensa participação de todos e da democratização das decisões, algo complexo quando se pensa em determinados assuntos, de natureza sigilosa. Mas dá.
O que teria propiciado essa "república velha" aqui? Personalismo, "tu sabes com que falas?", "trouxa, noob idiota, não sabe de nada, curve-se aos Capas-Pretas... Houve farras homéricas aqui com grana pública, cooptação na base do toma lá, dá cá e, porque não, a formação de autenticos feudos em algumas áreas do jogo. Até hoje, a diplomacia sofre com isso.
O que esperar? Que consigamos criar um ethos político novo aqui, um país democrático, onde as pessoas possam opinar e serem ouvidas...
alargar os mecanismos de comunicação e debate, enfim, romper com a logica que só um seleto grupo, enclausurado numa torre de marfim, tem o conhecimento, pode agir e etc e talz. Isso só já seria um ganho daqueles, bro!
Concordo com a análise do artigo.
v+
V+
Como sempre votado!
Mais um excelente artigo!
Li o artigo e o que venho na minha mente. Mudança.
votado
v+
ARENA vs MDB em breve nas próximas eleições.
v+
Quem acha que ler é chato, é porque nunca leu um artigo do Mahdi! Faz arte com as palavras.
Belo texto!
votado.
votado, muito bom!!
@jeyson Antonelli concordo totalmente com o seu comentário!
+V
votado e muito bom.
@Jeyson, perfeito. A carapuça serviu direitinho em mim. É só eu falar ou chiar lá vem os caras que tem "Sede de Phoder" em cima, batendo, tentando dizer que vc não sabe de nada, que vc é Padwan, etc, etc...
Brincam com a inteligencia da gente. É necessário sim um novo ciclo de comunicação, de ensino, de disponibilizaçào de recursos. Aprendi há pouco que esse existe, porém na mão de poucos. E para te-los, tem que enchem o saco.
A primeira imagem denunciou quem era! 😛