O Brasil merece dignidade!

Day 1,355, 19:15 Published in USA Brazil by Marcellus Bracara


Meus caros amigos,

Não foram poucas as vezes que disse, num dos tantos artigos que publiquei no eRepublik, que nada mais parecido com o Brasil que o eBrasil. O amigo leitor dirá, com a certeza plena, que nada mais óbvio. Insisto: nada mais invisível que o óbvio, nada mais fora do alcance de nossas retinas que o óbvio. Nelson Rodrigues, talvez um dos maiores dramaturgos contemporâneos e, na minha opinião, o maior cronista que produzimos dizia que o óbvio não é para qualquer um e que poucos o percebem. Nas suas crônicas finas e não menos debochadas, dizia que só os genios enxergavam o óbvio.



Engraçado como as coisas são. De repente, uma multidão ou algo mais ou menos assim, irrompe em protestos pelas nossas avenidas e praças virtuais, promovendo algo que, com muita boa vontade, poderemos chamar de “desobediência civil”. O acontecimento, em escala global, diga-se de passagem, tinha um intuito claro, óbvio como um flerte de colégio.



Outro escritor, esse mais debochado, dizia que “no Brasil a direita de quem vem é a esquerda de quem vai”. Ou melhor ainda, menos sutil e mais no alvo: “nada mais parecido com um liberal do que um conservador, quando na oposição. E nada mais conservador do que um liberal, quando no governo”. Coisas do Império. Mas atuais ainda.



Falta-nos, no eRepublik, instituições políticas mais fortes. Minto. Falta-nos isso não só aqui, mas também no mundo real, no osso duro de cada dia. Aí, infelizmente, não conseguimos estabelecer um jogo político mais claro, menos enevoado e movediço. Somos cordiais, como o velho Buarque (engraçado, agora todos os buarques que conheço são velhos...) já havia apontado. E cordialidade aqui no sentido de passionalidade, que fique registrado. Mais a mais, sem isso, tudo são quase jogos de espelho. E o resto é resto, como costumava dizer o papai aqui.

Um dos maiores entraves para a evolução política do Brasil real sempre foi nossa pouca vontade em fazer disso uma realidade. Aqui, sempre quando a coisa ameaça pegar fogo, quando as contradições se acirram ao extremo, quando as estruturas políticas, econômicas e sociais podem, de fato serem alteradas, a coisa se esvazia e os atores políticos trocam apertos de mãos e tapinhas nos ombros. Herança ancestral talvez, coisa de se resolver em sessão espírita ou num bom terreiro.

O Machado de Assis já apontava isso lá em meados pra fins do século XIX, no magistral Esaú e Jacó. Gêmeos, eram, um liberal e outro conservador, um republicano e outro monarquista. Mas tinham a mesma cara. Se brigaram ainda no ventre, nessa história fantástica de nossa literatura, era um o espelho inverso do outro. Uma metáfora pra lá de boa que pode ser lida hoje como “a esquerda de quem vem é a direita de quem vai”. O contraditório, nesse novo sistema que se gesta, não existe. Anulado por um consenso construído e discutível, o campo de manobra política passa a se restringir a um universo restrito, iniciático. Maçonarias.



Não poupei esforços no sentido de tentar uma resolução menos inflamada dessa questão. Afinal de contas, aceitar um pedido de impeachment significa, antes de qualquer coisa, reverter uma escolha feita pelo povo e ninguém, por mais irresponsável ou mal intencionado que seja, pode fugir a isso. Um assunto extremamente delicado, que atrai a atenção do mundo para nós num momento mais que complicado deveria, nesse sentido, ser melhor trabalhado e melhor gerido. Estranha-me mais ainda o fato de um companheiro de URB ter tomado essa iniciativa, atropelando um "acordo" estabelecido. Vivendo e aprendendo.



Durante o dia todos sofri uma enxurrada de ataques, alguns inclusive de natureza pessoal, que não visavam senão desqualificar minha fala e minha pessoa. Dói perceber que continuamos aqui com os mesmos vícios e mesquinharias do mundo real. A natureza dos ataques, seu nível tosco e patético (alguns chegaram ao ponto de copiar artigos meus, assinar como se fossem eles os autores e ainda, de forma pueril, dizer num comentário que objetivava tão somente “trollar o mahdi”. Venhamos e convenhamos) refletem, é impossível ignorar isso, o nível de politização e de reflexão dos que utilizam desses mecanismos. Não fosse patético, diria que triste.

Agora, é sacudir a poeira e acompanhar o desenrolar das coisas. Com a certeza inabalável que é possível fazer melhor e que é possível uma nova forma de se fazer política no eBrasil, sem as mazelas que herdamos do mundo real. Pode não ter sido dessa vez, e de forma frustrante, pois poderia ter sido. Mas será ainda. Amanhã será um novo dia.

Nesse sábado, gostaria de enviar a todos, amigos ou nem tanto, um abraço fraterno e votos de saúde e paz nesse governo que já se insinua. Que façamos, não só aqui, no eBrasil, mas também em nossas vidas, as mudanças necessárias, de modo que possamos ter mais tranquilidade, mais paz e mais perspectivas. Aos mais velhos, como eu, que o governo que se aproxima seja menos pesado. Aos mais novos, que tenham consciencia de sua força transformadora e que plasmem, na realidade –e aqui também- um novo mundo, mais justo, mais fraterno e solidário.

Um abraço ex-cordis,
Mahdi Cleitus